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Quem tem a oportunidade de praticar atividades físicas ao ar livre facilmente pode confirmar o expressivo número (ainda progressivo) de praticantes de corrida de rua. A diversidade da faixa etária, forma física, ritmo e estilo de corrida desses atletas recreativos comprovam quão democrática e acessível é essa modalidade esportiva. Obviamente que algumas precauções com relação à saúde e à segurança devem sempre ser consideradas.
Como praticante e treinador de corrida de rua, invariavelmente sou procurado por corredores recreativos que reclamam de sua própria evolução no esporte: não conseguem prolongar o esforço ou imprimir um ritmo mais forte e acabam mantendo, ou mesmo reduzindo, a intensidade de seus treinos ao longo do tempo. Isso resulta em frustração e na sensação de que não estão extraindo da corrida todos os benefícios que poderiam.
Na verdade, para evoluir na corrida, vários aspectos devem ser considerados e um treinador com conhecimento e experiência, através de ajustes nos métodos ou na técnica de corrida, pode estimular a melhora progressiva do desempenho. Nesse contexto, minha proposta é fazer com que você corredor (ou futuro corredor) compreenda alguns dos fatores fisiológicos, biomecânicos e psicológicos que interferem no resultado do seu treino de corrida. Sendo assim, abordarei essa temática ao longo do ano de 2015 em pelo menos quatro edições desta coluna quinzenal, ok?
Hoje, a ideia é discorrer sobre o VO2 máximo, uma variável fisiológica que tem sido reconhecida por estudiosos e atletas como importante para o desempenho em corridas de resistência. Essa influência no desempenho inclui diferentes níveis de corredores e interfere nos principais objetivos de quem pratica corrida: a conquista de um pódio, a melhora do próprio tempo em uma competição amadora, o maior gasto calórico ou simplesmente a conclusão de um trote de 20 minutos de forma mais eficiente e confortável.
A letra “V” vem de Volume, O2 significa oxigênio e VO2 máximo representa a maior quantidade (volume) de oxigênio, durante um esforço máximo, que o sujeito é capaz de captar, transportar e disponibilizar para que os músculos solicitados produzam energia através do sistema aeróbio. O oxigênio não é fonte direta de energia, mas ele precisa estar presente nas reações químicas intramusculares que resultam na produção de energia a partir do consumo de substratos como a glicose e os lipídios. Não é difícil concluir que quanto maior o valor de VO2 máximo, maior a facilidade para a prática de exercícios predominantemente aeróbios.
“Ah! Esse tal de VO2 máximo deve ser importante apenas para atletas de alto nível”. “Eu sou apenas um praticante recreativo e só quero perder peso e melhorar meu “gás”.
Não é verdade! Avaliar e melhorar o VO2 máximo é importante para todos, mesmo aqueles que curtem apenas dar uma corridinha. Mesmo sabendo que essa variável é muito influenciada pela genética, o fato de representar um parâmetro máximo, possibilita aos treinadores estabelecer de forma mais precisa a duração e intensidade dos treinos. O resultado disso: melhor desempenho na corrida, maior gasto calórico e mais saúde do sistema cardiorrespiratório, conforme atestam diversas pesquisas que demonstraram a relação bastante próxima entre os valores de VO2 máximo e menor risco para doenças cardiovasculares. Bom, não é?
O VO2 máximo pode ser medido diretamente através de um teste conhecido como ergoespirometria ou teste cardiopulmonar. Você já deve ter visto em vídeo uma pessoa correndo na esteira ergométrica, com alguns fios presos ao corpo e utilizando uma máscara de captação de gases. Pois é desse teste que estou falando. Existem outras formas de estimar o volume máximo de oxigênio, mas são estimativas, ou seja, apresentam uma margem de erro considerável, que será menor se o avaliador considerar todas as regras que definem os chamados testes indiretos.
Os testes indiretos podem ser realizados no campo (lembra do teste de Cooper?) ou em ambiente controlado como no caso dos testes ergométricos realizados pelos cardiologistas. Com os dados de um teste ergométrico bem realizado, o cardiologista busca definir, através da interpretação do traçado eletrocardiográfico, se há indícios de isquemia cardíaca (em consequência de uma obstrução nas artérias coronárias, por exemplo), além de detectar possíveis arritmias, ou ainda verificar respostas inadequadas da pressão arterial.
Para o profissional de Educação Física, além da verificação dos critérios clínicos descritas no laudo, informações como o valor estimado do VO2 máximo e as respostas de frequência cardíaca e pressão arterial durante e após o esforço funcionam como parâmetros importantes para personalizar o treinamento, identificando ritmos para os diferentes tipos de treino e estabelecendo alguns limites de segurança.
Apesar de importante, o volume máximo de oxigênio individual não pode ser considerado o único fator determinante da performance em corridas de rua. É perfeitamente possível que um indivíduo com um VO2 máximo menor que outro, possa chegar à frente em uma prova de resistência. De qualquer forma, não deixa de ser um parâmetro de saúde e desempenho bem interessante para a tomada de decisão do treinador e segurança do praticante. E você. já fez o seu teste?
Bons treinos!
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