sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

BENEFÍCIOS E RISCOS CARDIOVASCULARES DA ATIVIDADE FÍSICA


Dr. Alexandre Karbage, cardiologista e nosso amigo há mais de 30 anos,  teve a gentileza de conversar com o blog sobre os benefícios e riscos cardiovasculares da atividade fisica, em especial da corrida. Dr. Karbage é Preceptor da residência de cardiologia do Hospital de Messejana, Chefe da Unidade G de internação do Hospital de Messejana e Professor da Faculdade Mediciana da UniChristus. Vale conferir. 


Amigões Corredores: Dr. Alexandre Karbage, a prática de atividades físicas é amplamente divulgada como um fator de proteção para doenças cardiovasculares. Essa orientação ainda deve ser seguida?

Dr. Alexandre Karbage: Sim. Praticar exercícios físicos (EF) regularmente não é uma vacina mas consiste na mais importante ferramenta para a prevenção de doenças cardiovasculares, causa número 1 de mortalidade em todo o mundo.  



AC: Existe algum tipo de atividade física que promova maior benefício cardiovascular? Quais as mais indicadas?

AK: A novidade é que, ao contrário do que achávamos há pouco tempo, o benefício cardiovascular do EF se inicia a partir do décimo minuto de uma atividade de intensidade moderada e que a simples realização de 150 minutos de um EF aeróbico moderado por semana já seria suficiente para atingir a meta de prevenção. O ideal seria associar a esse EF 2 a 3 sessões de exercício resistido (musculação, p.ex.) de 30 a 40 minutos de duração cada. As atividades de baixo impacto devem ser preferidas, visando a prevenção de lesões. 

AC: Existe alguma recomendação sobre a freqüência e a intensidade da prática de atividade física?

AK: O mínimo seria o que falei na pergunta anterior. Quanto ao máximo, existem alguns estudos que defendem 7,1 km de corrida/dia ou 10,7 km de caminhada/dia e não mais que 3 sessões de EF resistido de 30 a 50 minutos cada/semana, com pouco peso e muitas repetições. 

AC: Recentemente, alguns estudos tem alertado sobre riscos cardiovasculares da prática esportiva. Em que situações a prática esportiva passa de benéfica para prejudicial, segundo esses estudos? Já há evidência científica robusta para tais conclusões?

AK: A cardiologia vive, finalmente, a era do equilíbrio, do bom senso. Após vários anos "radicalizando" nas orientações de dieta e EF na tentativa de reduzir a mortalidade da doença cardiovascular, chegamos, a duras penas e respaldados por evidências científicas robustas a uma prevenção realmente concreta e exequível. A pratica de EF competitivo e extenuante leva a produção excessiva de radicais livres de oxigênio, lesões articulares e osteomusculares além de disfunção endotelial. 

AC: Quais os efeitos deletérios a médio e longo prazo? E por que motivo ocorre esse prejuízo cardiovascular?

AK: A prática de EF competitivos e de alta intensidade dilata as artérias do coração (coronárias), reduz o drive simpático (quantidade de adrenalina, que é perigosa para a saúde, no sangue), melhora a função pulmonar, torna o sono reparador, dentre outros inúmeros benefícios. O problema é que a linha que separa o benefício do risco é extremamente tênue e, na minha opinião, deve ser individualizada através de avaliação cardiovascular e ortopédica. Pelo menos até surgirem as evidências científicas que deixem mais claro e objetivo os parâmetros de excesso. O prejuízo acontece por conta do estresse oxidativo, ou seja, um processo inflamatório que atinge a parede das artérias levando a uma maior fragilidade das mesmas. Vale ressaltar que outro enorme efeito deletério são as lesões de natureza ortopédica. Elas mantêm esses atletas afastados, muitas vezes por longo períodos, de suas atividades, o que para o coração, é péssimo. O sistema cardiovascular precisa muito mais de regularidade do que de intensidade para que possamos previnir o infarto e o AVC. 


AC: Como atletas amadores, participantes de provas de longa duração (maratona, ironman, ultramaratona)  podem reduzir esses efeitos cardiovasculares deletérios ?

AK: Uma avaliação individualizada já seria um grande começo. Existem indivíduos que tem genética, compleição física e resposta cardiopulmonar ao EF de longa duração extremamente favorável; já outros não. Uma vez ouvi num congresso, do Chefe do Departamento de Cardiologia do Esporte da Cleveland Clinic, que "correr uma maratona não é para quem quer, mas para quem pode!"

AC: Vários do grupo aqui pretendem continuar fazendo esportes de endurance. Estamos no caminho certo?
  
AK: Sim, estão. Sugiro apenas que não se restrinjam às acessorias esportivas. Procurem se certificar que está tudo bem com a parte médica antes de iniciar um programa de treinamento de alta performance. E durante também, periodicamente. Procurar detectar precocemente alterações ortopédicas e cardiovasculares ajuda bastante. E, principalmente, ter no EF uma arma poderosa de tornar a vida mais longa e de melhor qualidade, e não o contrário. Bons treinos!!!


Um comentário:

  1. Dr Alexandre Karbage. Provavelmente não vai lembrar de mim, quantos milhares de pessoas já passaram por suas mãos. Mas eu sempre, por enquanto eu viver lembrarei. O senhor foi a única esperança que me apeguei durante meus longos 2 meses e meio que passei em Messejana pra fazer cirurgia. Competente, humano, sensível. Salvou minha vida e eu serei eternamente grata por isso. Quandono senhor saiu da unidade que eu estava meu mundo desabouas lembro como hoje o senhor vindo saber do meu caso sempre que podia, por isso eu sempre rezarei por vc. Eu tenho uma vida muito boa agora. Me formei em Fisioterapia há 5 anos, sou mãe. Jajá vou trocar a válvula espero que no mundo haja mais Alexandres Jarbages e Jairos Aquinos. Nunca vou esquecer vocês. Que Deus os proteja!

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