http://www.jornalcorrida.com.br/runbrasil/2014/03/primeira-maratona-licao-para-a-vida/
NEM mesmo se tivesse um poder premonitório, daqueles capazes de ver situações futuras com riqueza de detalhes, o valente soldado Fidípides certamente não imaginaria o quanto seu feito histórico pelas planícies gregas influenciaria pessoas do mundo inteiro mais de 2.500 anos depois.
Fidípides não sobreviveu para contar sua saga, mas a história da maratona ganha cada vez “soldados” capazes de descrever cada dor, cada medo, cada alegria e emoção de correr 42.195 metros. “Sinto que passei por todas as emoções, de raiva até alegria pura. A cada quilômetro era um sentimento a ser vencido ou acolhido”, conta Valéria Spakauskas, corredora de São Paulo, que fez sua primeira maratona em julho do ano passado, no Rio de Janeiro. “Em 2012 fui para o Rio correr a meia maratona e na entrega do kit, quando vi as pessoas que correriam os 42 km, decidi que um dia também teria a camiseta laranja.”
Mas para ultrapassar a linha de chegada numa prova de longa distância é preciso muito mais que desejo. Vontade, determinação, disciplina e treinamento (muito treinamento) são obrigatórios na rotina de quem almeja isso. Segundo o treinador Gustavo Abade, da assessoria Branca Esportes, de São Paulo, não existe receita de bolo na preparação para uma maratona. “Conheço atletas rápidos que correm 10 km sub 40´ que não estão prontos para fazer uma maratona, em contrapartida tenho alunos lentos, com tempos acima de 1h nos 10 km, que já estão prontos para uma maratona”. O corredor tem que, antes que mais nada treinar com humildade, sabendo que na primeira vez é uma questão de vencer a distância sem se importar com o tempo, alerta Gustavo que, além de preparar novos Fidípides, já finalizou seis maratonas e sete ultramaratonas.
O treinamento da paulistana Valéria começou em janeiro. “Eram quatro dias de corrida por semana. Fiz longões de 20, 25, 30, 32, 35. A musculação era diária, intercalando parte superior e inferior. Pratiquei ioga e aulas de zumba. Cuidei da alimentação; aos sábados, tomava BCAA e gel após os longões e me hidratei muito”, relembra a maratonista. Tão importante quanto a preparação física, ressalta Valéria, a maratona é também um longo caminho mental e espiritual. “Chega um ponto em que o mundo passa na cabeça da gente. Eu não via a hora de terminar, jurava que nunca mais iria fazer outra maratona na vida, só queria chegar. Estava mais cansada mentalmente do que fisicamente. Foi uma luta. Tive que usar toda a minha energia e foco. É muito mágico isso: uma parte da gente acha que não vai dar ”.
Aos corredores que pensam em incluir uma maratona em seus objetivos, Gustavo Abade deixa uma dica: a preparação para os 42 km treina antes de mais nada a humildade. Se você se sente pronto para esse desafio, Valéria garante: “A sensação de vitória é muito maior do que a exaustão que a gente sente quando termina a prova. Acho que todo corredor deveria enfrentar seus ‘demônios’ numa prova dessas. São 42 km que fazem a gente crescer muito”. Ou, como dizem os maratonistas: a pessoa que larga numa maratona nunca é a mesma quando cruza a linha de chegada.
matéria originalmente publicada na ed. 13 do Jornal Corrida
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